segunda-feira, 28 de março de 2011

As Escolas Antropológicas - a contribuição da Antropologia às Ciências Sociais

A CONTRIBUIÇÃO  DA ANTROPOLOGIA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS

A Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos).
Além disso podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas. Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss, a etnografia corresponde “aos primeiros  estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e  última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”. 
Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.

AS DIFERENTES ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS

Ao longo da sua existência, a Antropologia tem, como toda ciência, mudado seus paradigmas e construído formas diversas de investigação. A essas formas diferenciadas de investigação e análise dos fenômenos culturais dá-se o nome de “escola antropológica”. Constituem os principais  paradigmas e escolas de pensamento  antropológico:

Evolucionismo social ( século XIX) -  Seus principais paradigmas foram: a sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o predomínio do trabalho de gabinete, a análise era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores que chegavam às mãos dos antropólogos. Entre os temas e conceitos trabalhados por essa escola, destacam-se: a unidade psíquica do homem; a evolução das sociedades das mais “primitivas” para as mais “civilizadas”; a substituição conceito de raça pelo de cultura. Seus principais representantes foram: Maine (“Ancient Law” – 1861); Herbert Spencer (“Princípios de Biologia” - 1864); E. Tylor (“A Cultura Primitiva” - 1871); L. Morgan (“A Sociedade Antiga” - 1877); James Frazer (“O Ramo de Ouro” - 1890).

Escola Sociológica Francesa (século XIX) – Seus principais paradigmas foram:  a  definição dos fenômenos sociais como objetos de investigação sócio-antropológica e a definição das regras do método sociológico. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: as representações coletivas; as formas primitivas de classificação (totemismo) e a teoria do conhecimento. O fato social total;  a troca e a reciprocidade como fundamento da vida social (dar, receber, retribuir). Seus principais representantes foram: Émile Durkheim (Regras do método sociológico”- 1895; “Algumas formas primitivas de classificação” - c/ Marcel Mauss - 1901; “As formas elementares da vida religiosa” – 1912); Marcel Mauss (Esboço de uma teoria geral da magia” - c/ Henri Hubert - 1902-1903; “Ensaio sobre a dádiva” - 1923-1924; “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção de eu”- 1938).

Funcionalismo – (século XX, anos 20) - Seus principais paradigmas foram:  a criação de   um  modelo de etnografia clássica; a ênfase no trabalho de campo (observação participante); a sistematização do conhecimento acumulado sobre uma cultura. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram:  a cultura como totalidade e o interesse pelas instituições e suas funções para a manutenção da totalidade cultural. Entre seus representantes e suas obras de referência podemos citar: Bronislaw Malinowski (“Argonautas do Pacífico Ocidental” -1922);  Radcliffe Brown (“Estrutura e função na sociedade primitiva” - 1952-; e “Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e Casamento”, org. c/ Daryll Forde - 1950.; Evans-Pritchard (“Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande” - 1937; “Os Nuer” - 1940); Raymond Firth (“Nós, os Tikopia” - 1936; “Elementos de organização social - 1951); Max Glukman (“Ordem e rebelião na África tribal”- 1963); Victor Turner (“Ruptura e continuidade em uma sociedade africana”-1957; “O processo ritual”- 1969); Edmund Leach - (“Sistemas políticos da Alta Birmânia” - 1954).
Culturalismo Norte-Americano (século XX, anos 30) – Seus principais paradigmas foram: o método comparativo, a busca de leis no desenvolvimento das culturas e a relação entre cultura e personalidade. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a ênfase na construção e identificação de padrões culturais ou estilos de cultura (ethos). Seus principais representantes foram: Franz Boas (Raça, Língua e Cultura - 1940), Margaret Mead (Sexo e temperamento em três sociedades primitivas - 1935), Ruth Benedict (Padrões de cultura- 1934; O Crisântemo e a espada- 1946).

Estruturalismo (século XX, anos 40) – Seus principais paradigmas foram: a busca das regras estruturantes das culturas presentes na mente humana; a teoria do parentesco; a lógica do mito e as formas  primitivas de classificação. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: os princípios de organização da mente humana; o princípio da reciprocidade. Seu principal representante é Claude Lévi-Strauss (As estruturas elementares do parentesco- 1949; Tristes Trópicos- 1955; Pensamento selvagem – 1962; Antropologia estrutural – 1958.

Antropologia Interpretativa (século XX, anos 60) – Seus principais paradigmas foram: a cultura como hierarquia de significados; a  busca da descrição densa. A interpretação sob inspiração hermenêutica. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a interpretação antropológica; a  leitura da leitura que os nativos fazem de sua própria cultura.  Seu principal representante é: Clifford Geertz (A interpretação das culturas – 1973; Saber local  – 1983);

Antropologia Pós-Moderna ou Crítica (século XX, anos 80) – Seus principais paradigmas foram: a preocupação com os recursos retóricos presentes no modelo textual das etnografias clássicas e contemporâneas; a politização da relação observador-observado na pesquisa antropológica; a crítica dos paradigmas teóricos e da autoridade etnográfica do antropólogo. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a cultura como processo polissêmico; a etnografia como representação polifônica da polissemia cultural; a antropologia como experimentação da crítica cultural. Seus principais representantes foram: James Clifford e Georges Marcus (Writing culture - The poetics and politics of ethnography- 1986); George Marcus e Michel Fischer (Anthropoly as cultural critique - 1986); Michel Taussig (Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem- 1987); James Clifford (The predicament of culture - 1988).

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